Manaus (AM) – Um artigo internacional publicado nesta segunda-feira (17), com a participação de duas pesquisadoras da Amazônia, apresenta uma perspectiva diferente de tudo o que já se sabe sobre a resposta da região amazônica para as mudanças climáticas. Na revista New Phytologist, as cientistas defendem que a preservação e a conservação das áreas de lençóis freáticos rasos são determinantes para conter o aquecimento global. Embora componham 50% de toda a Amazônia, essas áreas têm sido pouco valorizadas ou até desconsideradas em estudos científicos, enquanto se tornam o principal alvo da grilagem, de queimadas e da construção de estradas.
O artigo da New Phytologist "The other side of tropical forest drought: do shallow water table regions of Amazonia act as large-scale hydrological refugia from drought?" pode ser traduzido como "O outro lado da seca nas florestas tropicais: as regiões de lençóis freáticos rasos da Amazônia funcionam como refúgios hidrológicos em grande escala da seca". A publicação é assinada por Flávia R. C. Costa (pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o Inpa), Juliana Schietti (professora e pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas, a Ufam), Scott C. Stark e Marielle N. Smith. Os dois últimos pertencem à Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
"Quando a gente fala de refúgio hidrológico, nos referimos a lugares que provêm as melhores condições hídricas para os organismos vivos. Significa aquele lugar que vai manter as condições adequadas à vida mesmo quando outros lugares ficam ruins", explica a pesquisadora do Inpa. Diante das mudanças climáticas em curso, bastante perceptíveis nos períodos cada vez mais intensos de estiagem e de chuvas por todo o planeta, e em especial na Amazônia, algumas áreas são capazes de lidar melhor nesses períodos de estresse climático.
Na hipótese do estudo, esses refúgios hidrológicos cumprem um papel fundamental por dois comportamentos distintos. Em secas moderadas, as florestas de lençol freático raso se beneficiam da redução da umidade no ambiente, que em excesso é prejudicial para o desenvolvimento das árvores. Assim, durante as estiagens, elas passam a crescer mais e atuam como sumidouro de carbono, retendo e compensando a emissão de CO2 das plantas presentes em lençol freático profundo. Além disso, a manutenção da umidade nas partes baixas do relevo, que constituem estas florestas sobre lençol freático raso fazem com que elas se tornem refúgio para a biodiversidade. "São regiões que vão manter a umidade mesmo quando outras regiões estiverem secas demais, dependendo do grau da estiagem", explica a pesquisadora Flávia.
Resiliência é uma palavra que cabe para retratar esse fenômeno. A região que possui lençóis freáticos rasos permite melhorar as perdas de carbono, potencialmente em sinergia com o aumento de CO2 na atmosfera e, na ponta, fazendo com que elas passem a atuar como sumidouros de carbono.